Com a culpa que tu me emprenhas
Dou-te a fé,
Parida a fórceps,
Suplicando, aos berros, o perdão.
Pra ordem que me impões,
Brindo-te com a irreverência,
A mais chula,
Como sabes, bem ao meu gosto.
Nessa putaria de cotidiano,
O difícil é escolher o círculo.
Dante, Dante, Dante...
Cartógrafo do fim da humanidade.
E vamos de culpa, muita culpa;
E dá-lhe oração, muita oração;
E pro perdão,
Dez Ave-Marias,
Pra poder voltar ao metiê;
Michê da palavra,
Prostituto da letra,
“Sem vergonha” da expressão.
Se a poesia é libertária,
O estupor se alforria;
Alegre ou triste?
Que importa!?
O importante é a revelação,
É quebrar paradigmas,
É gozar...
O que importa é gozar...
O resto é pano de fundo;
É eufemismo barato pra escapar do pecado;
Tintura rosa para pincelar a culpa,
A filha-da-puta das sensações.
O elo deve ser quebrado.
Dá conversa na canoa,
Segundo Saramago,
Os fodidos somos nós.
Eternos proletários do intelecto,
Subalternos do pensar,
Concubinos da culpa,
O cônjuge fiel da mediocridade.
Mas tens opção.
Queres agarrá-la?
Não!?
Então, dez “Pais-Nosso”.
São Paulo.
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