(Como nasceu esse poema...)

Tem horas em que eu quero escrever e não consigo:
Me parece que eu já desgastei o verbo,
E dentro de mim meu próprio eco reverbera.
Não acontece a narrativa, em prosa ou verso:
Evidência de um grito mudo que eu não dera
- Protesto silente que sempre carrego comigo.

Tem horas em que as palavras escapam entre os dedos;
E suspendo as frases, deixo as rimas em pausa:
Parece que me falta uma pontinha de entrega...
Já tenho a conseqüência e inda procuro a causa;
Por causa de mim mesmo é que tateio às cegas,
Calado por meus próprios receios, meus medos...

Tem horas em que meu outro eu, poeta, explode
E tenta extravasar minha mediocridade,
Mas parece que o que eu tenho de pior
Me impede de expandir minha realidade;
E esse meu eu, após lágrima e suor,
Lamenta não ser tudo o que sabe que pode...

Tem horas em que é como se eu já não mais cresse
Que ainda vale a pena tentar um poema,
E jogo tudo pra cima e vou-me embora;
Mas meu subconsciente, preso no dilema,
Começa a escrever, já que está livre agora:
E assim é que nasce um poema como esse...