Meu canteiro

Desfaço de tudo que me contradiz.
De tudo que não me compõe e contraria.
Tentando, à revelia, ser feliz.
Regando os bens que ainda preservo.
Quero-os sempre junto a mim.
Faxino os cantos impregnados de anos.
Teias de sedução, redes de ilusão.
Logros do destino.Desatinos.
Enfeitiçaram-me os desencantos,
permanecem molhados de pranto,
lugares onde chorei tanto…
Mas onde cresci.
Amarelaram meus versos,
 revelaram meus protestos,
desprezaram meus amores,
minhas dores, o meu  canto.
Profanaram o território santo.
Bebo as horas mortas de prazer
na esperança de as reviver.
As fuligens de meu quarto
sopro e o refaço.
As dores, planto-as num vaso.
 Relembram o passo a passo
dessa jornada de culpas e descaminhos.
O recomeço, deixo a mim,
a quem pertence minha vida.
Assim como as flores, ao jardim,
de onde colho mudas
e cultivo um canteiro em mim.




Carmen Lúcia