Pintura Íntima

 
Sem carinho e reciprocidade
vai se perdendo  a nuance da tela e o acabamento cede
nos dedos do pintor a dúvida sobre a paisagem
uma expressão aos olhos meio desadequerida
um sentimento paira, o de ser apenas vaidade
- e ahh como ele se pergunta isso -
no magenta arroxeado apático, atordoado
o cenário não se fixa na química à óleo
o pintor agora parece um equilibrista
entre o estar ou não estar certo do que vê e o que o limita
aos poucos vai ficando tudo tão incolorido
Ou talvez os olhos estejam sofrendo da miopia d'alma?
O que não está moneticamente claro ou goticamente escuro?
Incompleta visão e as mãos e lábios ficam trêmulos
o cérebro já não mais se foca, indeciso, angustiado
e a perspectiva  está turva num surdo-mudo enigmático
o artista teme abandonar 
tudo que não se encaixe num quadro  futuro
a tela não se prende à cena ou se enxerga o oposto de tudo?
O obreiro, exausto,  limpa o suor que escorre de suas vistas
- ahh mas que não se jogue fora o que já foi feito  -
talvez essa tela seja pra questionamentos
dos expectadores modernistas ... eles curtem a incerteza

Cada um dando o acabamento ao seu cenário!
Beijos
Elisa Gasparini
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