Somos um fogo apagando sem a lenha...

 

A água que extingue a chama é leteana:

Emissária do esquecimento, apagadora ferrenha

De histórias simples e épicas, tão tirana,

 

Quanto as horas que distribuem vidas através de senha!

 

Achava intrigante a extrema passagem das horas.

Hoje, nem consigo definir que momento é presente,

Porque sinto tudo como um passado sem auroras...

 

E o futuro a chegar soa tão medonho e demente.

 

Contamos o tempo como quem conta a tabuada.

Mas não entendemos a fórmula, ninguém a sente.

A brasa de tudo esvoaça ao nada,

 

E as horas mesclam-se a um eterno tédio afluente.

 

Quantas fogueiras acabam como estas brasas?

Horas infindas, sem nada concreto, nos marasmos de nossas casas...