A Paixão e o Fumo

Ao longe, ainda vejo teus resquícios vultuosos,

Embora não me recorde tão bem das formas de tua face.

Certo como algo martirizante que me desgrace,

O que havia debaixo do véu de amores mentirosos?

 

E parecia ser amor, o que em suma nunca foi algo...

Eu trago o fumaçal dos cigarros, afogado em fumo

O qual desenha tua silhueta vaga, onde não mais me consumo,

Mas nostalgicamente pressinto como um capricho de fidalgo...

 

Nós nunca fomos feitos de aço, não é mesmo, "destino"?

Quem admitiria que a paixão o rebaixou ao estado de imbecil,

Quando parecia que era o nosso melhor, a queda do vil,

Que nos elevaria ao infinito... A realidade, porém, foi desatino...

 

O que sentiste que eu, afinal, senti distintamente?

Qual imagem vês quando inala o veneno de teus cigarros?

A minha? Ou de tantos outros de teus tantos escarros,

Os quais também pareceram amores e era sentimento doente?

 

Como eu poderia expressar o nada que me inspiras,

Se na realidade não é nada: é sombra e ao mesmo tempo, luz...

Mas e esta inércia e apatia em mim, que me guia e conduz

A um caminho que me faz analisar, com asco, todas as mentiras?!

 

Que dizer disto, senão que foi meramente, se é que foi, paixão?

Crepitou em falhas, ardeu em ideologias, queimou o enlace...

E embora não me recorde tão bem das formas de tua face,

Consumo o fumo, sabendo que ele é que me consome em reflexão...