Ainda que a palavra negue

a verdade ainda está lá,

a segurar a mentira no colo,

rindo dos juízes e de suas sentenças,

colorindo os ouvidos com virtudes,

ainda que o homem minta

ele diz a verdade

em sua mentira...

 

Ainda que risquemos do mapa certos caminhos

eles ainda estão lá esperando por nossos pés,

segurando tabuletas para que não nos percamos,

estradas enviesadas, becos suicidas,

nós os criamos com nossa astúcia e vaidade

mesmo que saibamos que a morte ceifará cada um de nós...

 

Ainda que a noite chegue e o dia tenha ido

dentro de nós o sol não morre e nos aquece

mesmo que o riso amarelo sugira outra coisa,

ainda que a compaixão se esconda sob as cobertas,

ainda que bebamos o chá frio para economizar dinheiro...

 

Ainda que a poesia seja algo que não viva entre nós

muitos dela fazem uso discordando do silêncio,

acorrentam palavras sacrificiais aos seus desígnios,

mancham os olhos da inocência com versos tristes,

bebem o sangue e limpam a boca com o papel

onde seus poemas morrem aos poucos...

 

Ainda que me sinta feroz e triste com essa raça,

ergo minha alma e a levanto como andor,

subo até o mais alto que posso,

escrevo nas nuvens um pedido,

sei que a chuva o deitará no chão

como me deitarei um dia 

para encontrá-lo e nos tornarmos

amigos para sempre....

 

 

Prieto Moreno
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