Contudo...


Cobre-me um céu de límpido azul


sem nuvens, sem manchas, sem véu.


 Um sol que o circunda a toda hora


inaugurando o dia em pleno festival


trazido pela aurora, levado pelo arrebol.


Espetáculo silencioso, poucos aplaudem,


 muitos nem veem…Perdem o show.


Cores que se dissipam em desabono


e voltam apagadas ao matiz


resgatar o brilho da tonalidade,


tornar o mundo mais feliz.





Cerca-me uma paisagem imaculada,


plantada pelas mãos de ninguém,


arquitetada para arrefecer os olhos


ou pôr à prova a incredulidade de alguém,


ornamentada pela alma do artesão,


destinada  a ficar calada, parada,


enquanto o homem corre pra viver


levando sua vida não consumada


sem nada ver ou se levar pela paixão.





Sagra-me  o gorjeio das aves


em seu ritual de oração,


quando, à tarde, em retirada


partem buscando outro verão.


E essa visão entorpece…em vão.


Escureço com a noite,


o homem vagueia pela rua,


o sol não acordou a lua,


 as estrelas trocam de lugar


esquecendo-se de brilhar…





Invade-me a nostalgia do fim do dia


como se fosse o fim de tudo.


Fim do mundo que teima


e continua a girar, contudo.






(Carmen Lúcia)