Em toda manhã fria abro a janela e escuto o canto de amor
que vem de lugares distantes, vozes de pessoas apaixonadas,
em cada uma um momento de felicidade ou de dor,
sem sofrimento, sem clausura, são só vozes
que escapam por entre os lábios e se vão
à procura de quem as escutem com afeto...
Me dá um arrepio escutar este canto feroz e manso,
como se eu visse cada rosto e cada ferida de amor,
alguém agachado aos pés da catedral a implorar
pela volta de alguém que partiu sem dizer nada,
mãos que amarrotam um bilhete de despedida,
lágrimas que se juntam à fria chuva de outono,
o amor com fome de viver de amor essa vida...
Volto e me sento e escrevo e descrevo o que vejo
e me largo como um barco rumo ao abismo;
horas se vão e debruçado sobre vidas alheias nem percebo
o quanto estou longe do que alguém sente,
diferente, porém igual, todavia, lo mismo...
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