Nos labirintos fúnebres de antiquíssimo convento

Onde a sombra da morte ombreia a fonte de toda vida

Ajoelho-me, contricto, ao chão rugoso e cinzento,

Banhado em lágrimas por mísera vontade contida.  

 

A vela acesa mantém-me hirto, soluçante, atento.

Minhas vísceras ardentes se consomem em ferida.

Não há silêncio, rosário, suplício, espasmo, intento

Que me façam conter duro pranto dessa dor suicida...  

 

Bendito seja o coração doce e ingênuo do crente

Que confia na graça divina de um perdão premente

Para uma alma insossa, sem luz, sem direção, sem norte!...  

 

Infeliz desse corpo rijo, hormonal, estonteante,

Teimoso para manter acesa a flama envolvente

Que o suga, voraz, febricitante, p’ro ventre da morte.

 

Do livro: Divinus et Mundanus

Autor: Carlos Roberto Fernandes

Editora Recanto das Letras 2016

ISBN: 978-85-69943-12-9

Carlos Fernandes
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