Acertei na Mosca
Selma Nardacci

Tenho mania de matar moscas, elas ficam paradinhas...
Aí, vou com as duas mãos e pá nelas.
Tirando a cacofonia que causei com “panelas”, quase sempre acerto.
De repente elas somem da minha frente gritando:
- A Selma chegou, a Selma chegou!
Depois me arrependo.
Fica tudo tão sem movimento...
Será mesmo que as coitadinhas mereciam morrer?
Filosoficamente falando: por que as moscas existem?
Não sei! Talvez para cairem na nossa sopa,
ocuparem o nosso tempo,
fazerem parte dos ditados populares que sempre trazem um fundo de verdade:
“Boca fechada não entra mosca”.
“Com vinagre não se apanham moscas."
“As fezes são as mesmas, as moscas que mudaram.”
“A pressa só é útil para apanhar moscas”.
“Mosca não se assenta em prato quente”.
Diante de todo esse aprendizado, devo continuar matando moscas?
Logo elas, que foram a minha fonte inspiradora,
nesse dia parado, entregue às moscas!
Pelo “tempo de casa” que venho matando moscas,
já aprendi uma coisa: elas são inteligentes, pois quando aproximo as mãos, elas voam apavoradas.
Acontece, às vezes, de aparecer uma mosca muito esperta,
mais veloz que as minhas mãos, tento pegá-la, mas não consigo, ela voa para o teto, gargalhando gostosamente e gritando em tom “zumbiteiro”:
- Hi! Dona Selma, você está tão mole hoje, que não consegue pegar uma mosca.
Então eu viro para ela e retruco:
- “Águia não se detém caçando moscas.”
Não se esqueça o que a zebra
disse para a mosca: "Você está na minha lista negra."
Confesso que fiquei mais nervosa do que “potro com moscas nos ouvidos”.
Então, peguei um pouco de mel e joguei na mesa.
Aí, ela veio, mais faceira do que “mosca em tampa de xarope”.
Aí eu pá nela! Que se dane a cacofonia!
Dei um grito e comemorei:
“- É com mel que se conquistam as moscas”.
Ela ficou lá... esmigalhada no mel, e eu, euforicamente, dei a última cartada:
“- Em terra de sapo mosca não dão rasantes.”

Selma Nardacci

Selma Nardacci dos Reis
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