Assim como vi a luz primeira ao nascer, quando te foste, também a vi...

Nunca mais serei o mesmo e sinto que minh'alma pula como um macaco

Em um arrebatamento insano e inconformado; admito ser um fraco

Agora que se foi o amor mais puro que eu já senti...

 

Meu interior está túrbido como se estivesse em noturna deriva.

Eu persigo teu brilho, correndo sempre, mas não alcanço os rastros

E fico a clamar, cheio de sentimentos feridos, pelos infinitos astros

Para que amenizem, enfim, esta dor desequilibrante e tão viva...

 

Como nutri sentimentos por ti! E apenas para vê-los presos a pregos!

A beleza da luz, tão admirada por todos, cega-me como um farol

E me sinto apenas uma sombra a ser destruída pelo intenso sol,

Um espírito errante com amores platônicos e irremediavelmente cegos...

 

Como pode o amor rasgar-me assim, como os vidros!?

Sinto-me tão sem norte, como um vinho esquecido em um barril

Dentro de uma arcaica adega de um senhor cruel e vil

Chamado "coração"... Mas ainda assim, meus choros são anidros...

 

Este pensamento de amar sem correspondência é tétrico...

Onde estão as promessas de eternidade tão castas e brilhantes?

Por que estás tão longe se éramos como diamantes?

Meu cérebro é martelado por dúvidas como que em distúrbio elétrico...

 

O que em ti é que me avassalou desta forma e ainda me seduz?

Será que foi por que nunca amei antes e o amor foi como uma cascata?

Ou por que perdi o sentimento depois de ti, fugido em uma densa mata?

Seja como for, nada me consola, nada tem sentido após a última luz...