Meu coração está imerso no crepúsculo:
Não vê as trevas da noite
Nem tem a luz da manhã.
Anda no limbo, trêmulo, minúsculo,
Aguardando um gesto, um toque,
Uma palavra sã.
 
Pendurado no tempo que coalhou
Como uma fotografia,
Sofre, na estação da vida,
A espera infinita
De um trem que já passou,
Ou talvez de um trem que não exista.
 
O que existe nesse momento
É o pulsar de fina esperança,
Que ao mesmo tempo,
Escava a ferida e a estanca.
Alisa, afaga, depois arranha,
E consola enquanto engana...
 
Não tem importância alguma.
Prefiro seguir acreditando
A permitir que o sol, em mim, suma.
Mesmo que coisa indefinível doa,
E dentro do peito, baixinho, se ouça,
O coração que fumega e espuma.
 

Lucilla Guedes
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