Boca que engarrafa o tempo
Quando nada diz,
Que eu tanto desejo,
E às vezes penso
Que se abrirá por um triz...
 
Boca que me acaricia
Somente com silêncios,
Cortantes, rijos, densos,
Que não reage à minha
Coleção de argumentos.
 
Sua apatia perfura o peito,
Sua rigidez tritura a alma,
Rasgando o espaço tenso,
Insuportavelmente imenso
Que nos separa...
 
Boca que ri dos meus espelhos,
Que vomitou sua neve branca
Em minha vida pouca,
E que agora deve estar preenchendo
A fome e a carência de outra boca.

Lucilla Guedes
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