Sós

 Agora estamos irreversivelmente sós,
embora juntos estejamos nós.
Dia a dia, a cada instante que passa,
 juntos e a anos luz de distância.
Corpos carentes de alma
ancorados para sempre num cais
onde a névoa impossibilita a visão,
correntes nos lembram prisão
de onde não se sai jamais.
Cumprimos tantas estapas,
andamos os mesmos passos,
dançamos a mesma valsa,
ora em sintonia, ora em descompasso.
Amamos o amor que nos foi legado,
ainda que a melodia, por vezes, soasse falsa,
ou nos calasse a voz para que víssemos
as mudanças das cores do arrebol,
 cada milímetro de movimento dos matizes
a nos encantar, nos colorir, fazer felizes,
sentindo emoções que atingiam o sol
vendo a luz dançar permeando o tempo,
iluminando o vento, passando entre nós.
Estranhos... e nos conhecendo tanto,
desconhecendo-nos, entretanto.
A música parou, a dança acabou, a luz apagou.
Não há como explicar o início ou o fim,
nem como tudo terminou assim.
Quando  acaba a canção
sai de cena a paixão
e o silêncio, o  ritual da solidão.

_Carmen Lúcia_