Sem fronteira

 Do lado de cá da fronteira

vivo a observar
o mundo restrito em que vivo,
um andar de lá para cá,
um voltar pra cá e pra lá,
um querer sem se aventurar,
um “qualquer dia chego lá...”
sem nunca sair do lugar.
 
Sem recomeço, fim, só desvaneço,
um quê de pouca esperança,
parece ter em cada canto
um círculo em movimento que avança
e me lança pra trás, pra frente,
me gira, revira e devolve
ao mesmo ponto de ida...ou de vinda,
sem ocorrer qualquer mudança.
 
Para o lado de lá da fronteira,
mesmo sem eira nem beira,
é onde quero chegar
se ousar quebrar a barreira
que me separa do lado de lá,
me livrar da lida rotineira
que me ata os pés
coibindo-me de voar.
 
Quando superar meus limites,
minhas longitudes, finitudes,
agravos de minha frágil geografia,
entenderei que ainda é dia
de atravessar a ribanceira,
e descobrir que não há fronteira.
 
_Carmen Lúcia_