Procura-se

Encontra-se perdida na imensidão,
na vastidão celeste, espaço sideral,
orbitando entre astros, vácuos, galáxias,
a minha poesia.

Voou tão alto que transcendeu
fronteiras, barreiras, limites, anos -luz ...
Ascendendo cada vez mais alto
a emergir no espaço, nave que a conduz...
sem conseguir parar, poema a girar.

Soltei as rédeas... e ela se foi.
Qual disco voador, mais longe do que eu.
Deixei-a fluir, inflando-a de anseios,
febris e loucos devaneios.
Acreditei poder um dia a igualar a Deus!

Agora apenas um sol já não lhe basta,
muitas luas não abrandam os sonhos seus,
nem mesmo as estrelas podem convencê-la
a pôr os pés no chão, voltar aos braços meus.
Fez-se parte do universo, reluzindo versos
que se misturam com poeira cósmica a dourar o céu.

Divaga por constelações, cintilações...
Na Via Láctea faz tour. Esnoba seu glamour.
Possui luz própria, transgride a lei da gravidade .
Pretensiosa, quer ser o alvo da atração.
Tornou-se criatura. Despreza o criador.
Vagueia pelo mundo de ostentação.


E eu aqui a esperar em vão,
alma vazia, isenta de ilusão...
Peito sangrando, morreu a inspiração.
Pena máxima de um poeta. Condenação!
Contaminada pela vaidade e ambição,
por minha culpa, a poesia se perdeu...

_Carmen Lúcia_